Top 30 - parte 2.
Finalmente saiu. A segunda parte do meu Top 30 de melhores filmes em minha opinião. Quem quiser ver a primeira parte, basta clicar aqui e você poderá ler o resto de minha pequena e humilde listinha. Bem, sem mais delongas, aqui vai a parte 2.
20° - Taxi Driver. Filme de 1976. Dirigido
por Martin Scorsese. Com Robert De Niro, Jodie Foster, Harvey Keithel.
Um homem solitário dentro de um
táxi, observando as pessoas e sua forma suja de viver na cidade de Nova Iorque.
A música apoteótica de Bernard Herrman traduzindo muito bem a visão de mundo do
protagonista, Travis Bickle. Uma paixão não correspondida por uma bela mulher.
Decepção ao perceber a degradação do ser humano através da prostituta Iris, de
apenas 12 anos, vivida por Jodie Foster, ainda quase criança. Explosão de fúria
e vingança. Tudo embaralhado em um roteiro que fala, acima de tudo, da solidão
e da rejeição. Com isso, só podemos esperar algo violento pela frente. E é o
que vem. Só que essa violência é a lama que, ao invés de sujar, limpa o
protagonista, que emerge das sombras como um homem que quis fazer algo especial
para alguém. Espetacular.
Por que é o filme da lista? É um filme denso
até a medula, com uma aura vingativa extrema.
Cena inesquecível: a cena
inicial, emoldurada pela música de Bernard Herrman, e onde observamos, de
dentro do táxi de Travis Bickle, a cidade e todas as suas nuances.
19° - 2001 – Uma odisseia no espaço
(2001 – a space odissey). Filme de 1968. Dirigido por Stanley Kubrick. Com Keir Dullea, Gary Lockwood,
William Sylvester e Daniel Richter.
HAL 9000. O nome do computador. Uma
cutucada na IBM (as letras I, B e M estão lado a lado das letras H, A e L no
alfabeto). Uma história filosófica sobre a vida, a evolução e sobre o que mais
você puder depreender desse filme espetacular. A história começa, como dizem os
letreiros iniciais, na aurora da humanidade. No tempo em que os homens ainda
tinham características símias. De repente, após alguns acontecimentos que nos
remetem ao primeiro uso de armamento em batalhas, e após a aparição de um
estranho monólito negro, vemos a nave Discovery encher a tela, embalada pela
música “Danúbio azul”, de Johann Strauss. Cada detalhe desse filme lindo é para
ser desvendado aos poucos, nunca de primeira. Quem disser que entendeu esse
filme quando o viu pela primeira vez, estará certamente mentindo. Há sempre
algo a notar. Sempre um detalhezinho que o faz cada vez mais interessante, como
um filme filosófico e de grande apelo visual e psicodélico, com muitas questões
a serem despertadas e, talvez, nunca respondidas.
Por que é o filme da lista?
Assista a 2001. Preste atenção a tudo. Absorva as imagens. Depois, veja
qualquer filme de ficção científica feito nos anos de 1960 até Star Wars, inclusive muitos que
apareceram depois, e então você verá o quanto esse filme está à frente de seu
tempo.
Cena inesquecível: tentei fugir
dos clichês, mas sempre que você se lembra de 2001, você pensa na sequência com
os macacos esfacelando ossos de algum animal ao som de “Assim falou Zaratustra”,
de Richard Strauss.
18° - Donnie Darko (idem). Filme de
2001. Dirigido por Richard Kelly. Com Jake Gyllenhaal, Jena Malone, Maggie
Gyllenhaal, Drew Barrymore e Patrick Swayze.
Richard Kelly, em sua primeira
incursão como diretor, fez esse maravilhoso filme que se tornou cult (chegou a
gerar uma horrenda e absolutamente esquecível continuação). Jake Gyllenhaal faz
o papel título, um adolescente com problema de esquizofrenia e que enxerga um
coelho gigante que parece saído do Planeta Bizarro das histórias do Superman.
Um dia, esse estranho personagem chama Donnie no meio da noite para dar um rolé.
Em conversa, o bicho diz a ele a data e hora exata do fim do mundo. Quando o
rapaz volta para casa pela manhã, viu que uma turbina de avião havia caído bem
em cima de seu quarto. De onde veio a turbina? Onde está o resto do avião? Por
que o coelho deu a Donnie a data exata do fim do mundo? Essas e outras
perguntas permeiam a nossa mente quando estamos vendo o filme. Os efeitos
simples e a trilha sonora oitentista (o filme se passa em 1988) funcionam na
medida. O clima varia do terror ao drama. Física quântica, viagem no tempo e
gurus de autoajuda fazem da história um dos maiores quebra-cabeças do cinemão
norte americano dos anos 2000. Veja e desencane.
Por que é um filme da lista? Ao
terminar de ver o filme, eu senti um estranho nó na garganta. Uma certa
tristeza daquelas que só as melhores histórias nos proporcionam.
Cena inesquecível: o desfecho ao
som de “Mad world”.
17° - Coração Valente (Braveheart).
Filme de 1995. Dirigido por Mel Gibson. Com: Mel Gibson, Sophie Marceau, Patrick
McGoohan, Catherine McCormack.
A despeito da polêmica do filme
em torno dos homossexuais, você nota a paixão envolvida na produção. A
preocupação com os detalhes. Com os sotaques (Mel Gibson sempre foi cuidadoso
com isso). Tudo fez do filme um dos grandes épicos modernos, com cenas de
batalha extremamente vigorosas e bem orquestradas. Fora a emoção que emoldura a
trama. Ela fala de um jovem escocês, William Wallace, filho de plebeus que,
após a perda do pai, vai embora com o tio, um cavaleiro. Ele volta para a Escócia com a
intenção de rever seu antigo amor de infância (McCormack), se casar e ter
filhos. Mas após uma tragédia, o destino o obriga a liderar os escoceses na
luta pela libertação da Escócia do jugo do Rei Longshanks (McGoohan), que
governa a Inglaterra com mão de ferro. É difícil não se empolgar com as
estratégias criadas por Wallace para derrotar o muito mais equipado exército
inglês. E o filme ainda conta com um dos discursos mais notáveis do cinema
mundial.
Por que é um filme da lista? É o
filme que trouxe as lutas épicas de volta ao cinema, após anos fora da moda hollywoodiana, e com cenas de batalhas que até hoje, mesmo com toda computação
gráfica, nunca foram superadas.
Cena inesquecível: Além do
discurso citado acima, se você não sentir aquele arrepio quando William dá seu
grito de liberdade, você não tem sentimentos.
16° - Cidade de Deus. Filme de 2002.
Dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund. Com: Alexandre Rodrigues, Leandro
Firmino da Hora, Seu Jorge, Matheus Nachtergaele, Jonathan Haagensen.
Pense na filmografia de Quentin
Tarantino. Imagine aqueles personagens, geralmente pessoas ligadas ao crime e à
violência, sendo transportados para a realidade crua de uma grande cidade
brasileira. Junte tudo e você terá um pouco do que é esse filme. Com uma
fotografia fantástica, que concorreu ao Oscar, o filme dirigido por Fernando
Meirelles e co-dirigido por Kátia Lund se utilizou da montagem rápida e episódica
para contar a história do jovem Buscapé, garoto negro e pobre que cresceu em
meio à violência da favela, mas que opta por não seguir a onda de
criminalidade, mais por inaptidão do garoto ao crime do que por escolha
própria. Seu talento nato para a fotografia ajudou também. Mas em sua
via-crúcis, Buscapé encara de perto o medo e a tensão da eterna guerra por
pontos de vendas de drogas na comunidade que dá nome ao filme. Guerra essa que
angaria diversas almas perdidas em meio à pobreza e a certeza de que a violência
é a única coisa que pode garantir um pouco de respeito para esses jovens que
crescem achando que seu lugar no mundo só pode ser conquistado à força. Vide a
sequência em que o personagem Filé com Fritas, interpretado por Darlan Cunha, é
forçado a atirar à sangue frio em um garoto para demonstrar que tem valor em
meio aos bandidos mais velhos. O filme é baseado no livro de Paulo Lins, que,
por sua vez, se baseou na verdadeira história da Cidade de Deus.
Por que é um filme da lista? Um
verdadeiro soco no estômago, que ainda apresentou um dos personagens mais
icônicos da história do cinema, não só brasileiro, mas mundial: Zé Pequeno
(Firmino da Hora). Angariou vários fãs no meio hollywoodiano, como o falecido
diretor de “Top Gun”, Tony Scott, que recrutou vários atores de “Cidade de
Deus” para papéis no filme “Chamas da vingança”.
Cena inesquecível: a batalha
final entre a gangue liderada por Zé Pequeno e a liderada pelo personagem de
Matheus Nachtergaele, o Cenoura.
15° - E.T. o extraterrestre (E.T. – the
extraterrestrial). Filme de 1982. Dirigido por Steven Spielberg. Com: Henry Thomas, Dee Wallace, Robert
McNaughton, Drew Barrimore.
Muitos marmanjos que estão na
casa dos trinta e tantos, quarenta e poucos anos, já derramaram baldes de
lágrimas com a singela história do E. T. perdido no nosso planeta. Ele, solitário
e esquecido pelos seus iguais, é encontrado por Eliott (Henry Thomas), menino
de 12 anos que também é, de certa forma, solitário, tendo em vista que o mesmo
se sente ignorado pelos irmãos e abandonado pelo pai. Eliott então passa a ter
uma ligação quase espiritual com o alienígena, o que faz com que ele passe a
protege-lo como a si mesmo dos perigos que a Terra oferece. Spielberg é um
diretor calculista, com extrema habilidade na direção de crianças e na condução
das emoções que a trama oferece. Este é um dos mais belos exemplares que, além
de ser uma ficção científica empolgante e cheia de detalhes tocantes, é um
drama que fala de família, de solidão e, acima de tudo, de amizade entre seres
diferentes.
Por que é um filme da lista? Me
lembro de ter assistido a esse filme pela primeira vez em VHS, sem esperar
muito dele. Mas quando terminou, achei que essa tinha sido a melhor história de
amizade de todos os tempos. Exagero? Não para uma criança de 11 anos, cheia de
sonhos.
Cena inesquecível: a cena da
bicicleta voando com a lua ao fundo é clássica, mas o que fica em minha mente é
a cena em que a mãe de Eliott vê pela primeira vez a criatura. Ela chora, você
nota o medo nela. E então, quando o E. T. estica os braços, à procura de ajuda,
ela foge com seu filho doente, enquanto a criatura grita por estar muito
doente. Simplesmente de cortar o coração.
14° - Psicose (Psycho). Filme de 1960.
Dirigido por Alfred Hitchcock. Com:
Anthony Perkins, Janeth Leigh.
Hoje em dia, os filmes não te
surpreendem mais. Você já vai ao cinema sabendo de quase todo o filme,
principalmente as grandes produções. Trailers, comerciais, featurettes, cenas
aqui e ali tiram quase toda a graça. Isso talvez fosse ruim para um diretor
como Alfred Hitchcock. Ele era conhecido por guardar obcecadamente os segredos
de suas produções. Nesse filme em particular, Hitchcock proibiu que as pessoas
entrassem nos cinemas depois que as sessões já tivessem iniciado, e, aliás, nem
os atores sabiam de todos os detalhes da história, que só ficou mesmo
conhecidos por eles após a edição final. E o furor foi tamanho que o filme foi
um grande sucesso nas bilheterias, mesmo com todo o temor dos produtores por
causa das cenas de violência, fortes para a época. Mas o diretor tomou a
decisão, sábia, de realizar o filme em preto e branco para amenizar o clima, e esse tom monocromático
ilustra bem a dualidade dos personagens e da trama em si, que é cheia de
reviravoltas. É a história de Marion Crane (Leigh), que, após furtar o dinheiro
de seu chefe, foge e resolve se esconder no Bates Motel, com Norman Bates
(Perkins) como anfitrião. Só que ela não sabe os segredos que ali se escondem,
e que geram grandes tragédias.
Por que é um filme da lista?
Simplesmente porque tem as melhores e mais surpreendentes reviravoltas do
cinema.
Cena inesquecível: A cena do
chuveiro já se tornou icônica, e o final, com o olhar sádico de Norman Bates,
enquanto um policial explica a situação para outras pessoas.
13° - Trainspotting – Sem limites
(Trainspotting). Filme de 1996. Dirigido por Danny Boyle. Com: Ewan McGregor, Jonny Lee Miller, Robert
Carlyle.
Trainspotting conta a história de
Mark Renton (McGregor), jovem viciado em heroína que tenta largar as drogas,
mas que sofre as más influências dos amigos, também viciados. Juntos, eles
praticam diversos crimes na cidade de Edimburgo, Escócia. Este filme fala sobre
o vício de forma diferente da vista em “Réquiem para um sonho” (vide o 29º da
lista). Aqui, o humor negro está presente em toda película. O exagero e os
cortes em ritmo de videoclipe também. Danny Boyle, em seu segundo filme, mostra
bem as vivências e convivências da geração anos 90. O estilo, as músicas, as
drogas, tudo embalado numa história que vai da escatologia total (a cena do
banheiro é uma das mais nojentas do cinema) ao deboche puro, como quando Renton
fala com revolta sobre os escoceses e ingleses.
Por que é um filme da lista?
Empolgante. Surreal. Engraçado. Dramático na medida certa. Com atuações
excepcionais e direção maravilhosa.
Cena inesquecível: não tem como
você ver esse filme e tirar da cabeça a cena em que Mark Renton vai se aliviar
no banheiro mais imundo e grotesco de Edimburgo.
12° - Curtindo a vida adoidado (Ferris
Bueller’s day off). Filme de 1986. Dirigido por John Hughes. Com: Mathew
Broderick, Mia Sara, Alan Ruck, Jefrey Jones, Jennifer Grey.
Fato, Ferris Bueller é o Tyler
Durden dos adolescentes. Antes que você me venha com um “esse cara deve estar
louco”, considere o seguinte: Ferris Buller é o moleque que convence todos ao
seu redor de participar das loucuras que ele planeja. Tem sucesso em tudo que
faz. É engajado com a sua liberdade, principalmente a de matar aula de vez em
quando, que, em uma sociedade conservadora como a americana, principalmente nos
anos 80, isso é considerado o paradigma da subversão adolescente. Faça as
comparações e verá que isso não é exagero. Aliás, o diretor Hughes, que
escreveu o roteiro de “Esqueceram de mim”, realizou aqui a grande obra-prima dos
filmes adolescentes. Ao lado de “O clube dos cinco”, Hughes conseguiu sintetizar
a complexidade e a vontade de se libertar das imposições sociais, sejam estas
simplesmente imposições patriarcais, como ocorre em “Curtindo...”, sejam elas
imposições de estereótipos, como acontece em “O clube dos cinco”. Mas aqui a
vantagem está em acompanhar o jovem Ferris e seus dois comparsas, a namorada
Sloane e o amigo meio nerd, meio hipocondríaco, Cameron, nessa vida de um dia
de subversão ao matar aula e fazer daquele dia o mais divertido de suas vidas.
E como é deliciosa essa aventura, cheia de esquemas para tirar de seu encalço o
diretor furioso com o garoto que sempre mata aula e se dá bem, e a irmã cheia
de ciúmes de seu bem mais popular e querido irmão. Ao final, percebemos que
Ferris Buller é apenas um jovem como a maioria, que pensa em se divertir sem
causar nenhum mal a ninguém, mas que sabe que tem que pensar também no futuro.
Por que é um filme da lista? Sempre
que revejo “Curtindo a vida adoidado”, a vontade que eu tenho é de largar tudo
de vez em quando e curtir a vida. Isso faz desse um filme altamente influente
para mim, desde a minha tenra idade.
Cena inesquecível: “Twist and shout”. É só.
11° - Brilho eterno de uma mente sem
lembranças (Eternal sunshine of a spotless mind). Filme de 2004. Dirigido por
Michel Gondry. Com: Jim
Carrey, Kate Winslet, Elijah Wood, Kirsten Dunst, Tom Wilkinson, Mark Rufallo.
Sobre filmes românticos, existem
os adocicados, os dramalhões, as comédias “água-com-açúcar”, e existe “Brilho
eterno...”. Esse é o suprassumo das histórias românticas. Existem outros muito
bons, como “Procura-se Amy”, a trilogia “Before”, “500 dias com ela”, etc., mas
esse tem uma loucura em sua concepção, e sua narrativa é tão cheia de camadas
que o torna um dos grandes clássicos modernos do cinema. O enredo, que beira o
bizarro, é o seguinte: Jim Carrey é Joel, que teve um relacionamento bem
duradouro com Clementine, vivida com leveza por Kate Winslet. Esse
relacionamento acabou não dando certo e, para evitar sofrimento, Clementine
passa por um processo revolucionário que consiste em retirar da memória tudo o
que não é agradável, sendo que ela retirou todo o seu relacionamento com Joel,
esquecendo-se inclusive dele próprio. Joel, descobrindo o que houve, e movido
por raiva e angústia, decide passar pelo mesmo processo. Tudo começa muito bem,
mas à medida que as memórias passam daqueles momentos ruins do fim do
relacionamento para os bons momentos de seu início, Joel descobre que não mais
quer se livrar dessas memórias. No entanto o processo se mostra irreversível. E
aí é onde começa a jornada interna de Joel para tentar manter as memórias
dentro de sua cabeça. Com isso o filme suscita uma série de possíveis leituras,
desde a lógica de que as memórias, sejam elas ruins ou não, são parte de quem
somos, até o fato de que um relacionamento não se faz só de bons momentos. O
roteirista Charlie Kaufman foi considerado um dos melhores roteiristas de todos
os tempos após o roteiro desse filme e de outros igualmente originais, como “Quero
ser John Malkovich” e “Adaptação”.
Por que é um filme da lista?
Porque esse filme me fez repensar tudo o que eu sou, como só uma boa dose de
psicanálise pode fazer.
Cena inesquecível: um minúsculo
Jim Carrey, escondido embaixo de uma mesa como uma criança, levando uma bronca
de uma gigantesca Kate Winslet, ou ele fugindo agarrado à mão dela enquanto
tudo ao seu redor se desfaz.
Até a próxima.
Roberto Dias
Comentários
Postar um comentário
Sua colaboração é de infinita importância. Opine!