Soul - podemos curtir a vida adoidado (ou não).

  Numa pequena cena pós-créditos, uma alma diz ao público: "Vocês ainda estão aqui? O filme já acabou". Sim. Quem é ligado na sétima arte sabe que essa cena faz uma referência à maravilhosa comédia oitentista "Curtindo a vida adoidado", na qual um adolescente resolve juntar sua namorada e seu melhor amigo hipocondríaco pra passar um dia apenas curtindo a vida. E aí a gente se pergunta: por que algo tão simples gera um filme de tamanho sucesso? E qual a ligação dessa comédia com esse novo filme da Disney/Pixar, lançado neste dia 25 de dezembro na plataforma de streaming Disney+? Bem, "Soul" resolve lançar uma luz sobre essa questão ao abordá-la mais uma vez, só que de forma sensível, algo que já é esperado nos filmes da produtora, principalmente saindo da direção de Pete Docter, o mesmo por trás de "Up -  Altas aventuras".


 

"Soul" conta a história de Joe Gardner, um homem apaixonado por música, principalmente pelo jazz, que vive uma vida na qual ele acha não fazer sentido, pois não faz sucesso como outros artistas que ele ama. Trabalha como professor de música substituto desiludido com a profissão, quando é efetivado no quadro da escola. No mesmo dia, ele recebe uma proposta de tocar ao lado de uma grande dama do jazz da cidade de Nova Iorque. No entanto, ao sair empolgado com a chance, ele acaba sofrendo um acidente que o leva à morte. Ele passa então a buscar um jeito de voltar à vida para tentar aproveitar aquela chance de se tornar alguém. 

Mas, pra se tornar alguém, é necessário tanto esforço? Em sua jornada, Joe Gardner conhece uma pequena alma rebelde que está sendo preparada pra vida, mas nunca encontrou um mentor que conseguisse tão façanha. Os dois não parecem ter nada em comum, mas acabam seguindo juntos um caminho que, inicialmente, é diferente, mas depois vemos que não é tanto assim.

Em nossa jornada na vida, somos cobrados de todas as formas. E quando alguém se desvia dessa curva criada na sociedade, a de estudar, trabalhar, ser alguém pra colaborar com as engrenagens da civilização, acaba se tornando o tal "Bicho-Grilo", personagem óbvio dessa trama que serve, além de um extraordinário alívio cômico (alívio cômico em um filme de comédia?? É, não achei termo melhor pra esse personagem), serve também de alegoria no enredo de busca pela aceitação na vida. Mas aceitar é, também, ser aceito como os outros querem aceitar? Quem de nós nunca ouviu a frase "se nada der certo, viro hippie"? Pois é. É mais ou menos por aí. Mas será que as coisas não precisam dar certo pra simplesmente seguirmos a vida? Vivemos em um mundo que nos exige tanto o tempo todo. Às vezes é preciso apenas seguir o conselho do sábio adolescente Ferris Bueller, temos que parar um pouco e apenas aproveitar a vida. 

Em "Soul", o que vemos é que não é preciso realizar os sonhos mais loucos pra ser alguém, às vezes o que é necessário é apenas respirar fundo e... sentir a vida, lá no fundo de nossa alma, e perceber que ser alguém não é exatamente um propósito. É algo que somos desde que nascemos, nós apenas vivemos numa sociedade que não está preparada pra essa conversa. Pelo menos não ainda.

Abraços e até a próxima, minha gente linda.

Bob Dias.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Succession - como aprendemos a amar pessoas tão detestáveis (com muitos spoilers)

Se7en e o senso de justiça de seus protagonistas - análise fílmica.

Mad Max - a estrada da fúria: crítica