Pequena obra prima fala da intolerância ao que parece diferente.





Pleasantville – a vida em preto e branco (Pleasantville, 1998) de Gary Ross. Com: Tobey Maguire, Reese Whiterspoon, Jeff Daniels, Paul Walker, Joan Allen, William H. Macy, Don Knotts.




As mudanças fazem parte de nossas vidas. Isso é fato. O que seria de nós seres humanos sem mudanças? Talvez ainda estivéssemos vivendo em cavernas, sem eletricidade e sem internet. Só que algumas pessoas, ao invés de aceitar as mudanças e àqueles que as promovem, reagem com discursos intolerantes, alguns até de forma violenta. Não aceitam que as coisas acontecem e não podemos controlar tudo o que ocorre no mundo. O certo é que, se não entendermos as mudanças ao nosso redor e não as aceitarmos, vamos agir sempre de forma ignorante, sem conhecer o mundo. Sem conhecer o outro.  E é sobre isso que essa pequena pérola do cinema fala: mudanças e como reagimos a elas.
Na história, Tobey Maguire é David, um jovem nerd fã de um antigo seriado de TV em preto e branco, chamado Pleasantville, sobre a tradicional família americana. Reese Whiterspoon é Jennifer, sua irmã descolada e cheia de malícia. Os dois, num passe de mágica, vão parar dentro daquele seriado, como personagens principais. Naquele mundo, onde tudo funciona como uma engrenagem e nada nunca muda, não há cores além do preto, do branco e de suas variações. O conhecimento de algo além de suas próprias limitações é algo fora de cogitação. Certo, vemos que tudo isso funciona para todos aqueles que ali vivem, ou pelo menos parecem funcionar. O fato é que as coisas na cidade não progridem. Tudo é chato. Não há emoção de ser derrotado para que a vitória seja mais saborosa (o time de basquete de Pleasantville vence todos os jogos). Os namoros são pudicos e sem intensidade. E todos trabalham sempre nas mesmas coisas. Mas algo muda com a chegada de David e Jennifer, que se passam por filhos de um tradicional casal de Pleasantville. Jennifer, contrariada em viver naquele mundinho sem cor, resolve fazer algo diferente, e acaba se envolvendo numa relação com o jovem Skip Martin, personagem do falecido Paul Walker (Velozes e Furiosos). Inicialmente inocente, a relação ganha contornos mais sensuais, muito mais do que qualquer jovem daquela cidade está acostumado. Então os jovens começam a enxergar pequenos detalhes coloridos em Pleasantville. Alguns acham aquilo lindo e acabam assumindo sua forma colorida, mas os cidadãos tradicionais abominam o que está ocorrendo, e começam a rechaçar com violência todos aqueles que ganham contornos coloridos, demonstrando certo de grau de intolerância e preconceito. O que ocorre a seguir é meio que uma imitação do que ocorre na vida real. Pessoas que assumiram sua forma colorida são atacados pelos tradicionais e acabam tendo que se esconder. Alguns escondem até sua própria identidade com medo do que pode acontecer, com medo do que os outros podem pensar.



A direção de arte do filme é simplesmente maravilhosa. As cores vão tomando conta da cidade de Pleasantville aos poucos, em efeitos belíssimos. As atuações são contidas e perfeitas, como o personagem George Parker, vivido por Willam H. Macy (Boogie Nights). Ele é um dos mais complexos personagens do filme. Pertencente à linha tradicional de Pleasantville, ele luta contra sua própria intolerância por amor à família, principalmente à sua mulher, que se tornou uma “colorida”. O olhar de desespero dele nos faz pensar que alguns intolerantes podem mudar, dependendo de seu grau de amor pelo próximo, e mesmo com medo dessa mudança. Aliás, o que ele sente, mais do que raiva de tudo aquilo, é medo. E é esse medo de mudar que deve ser combatido. Porque ao aceitarmos o que nos parece diferente, aceitamos a própria progressão da vida. E percebemos, ao fim, que talvez aquele extremista tradicional, cheio de discurso de ódio, pode ser um colorido e não perceber que o é, até que se ponha um espelho em sua face. Um espelho ético.

Um abraço colorido, e até a próxima.
Roberto Dias

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