Se7en e o senso de justiça de seus protagonistas - análise fílmica.


Olá, meus poucos leitores amados e minhas poucas leitoras amadas, hoje eu vou trazer uma pequena análise do fantástico filme "Se7en - os sete crimes capitais", porém sob um aspecto semiótico.

O diretor David Fincher sempre diz que conhece todos os mecanismos existentes dentro da indústria cinematográfica para se fazer um filme. E por conhecer esses mecanismos, ele se tornou extremamente exigente com os profissionais que trabalham com ele. Não só isso, ele demonstrou que tinha capacidade de obter a autoridade sobre a obra que ele dirigia. O filme “Seven – os sete crimes capitais”, de 1997, foi muito bem recepcionado pela crítica e pelo público, dando a ele a voz que queria ter após o "fracasso" pessoal obtido com "Alien 3", e por essa razão, seu grau de exigência nos estúdios foi cada vez mais notado.
Em “Seven”, que é um ótimo exemplo da habilidade de Fincher em construir corretamente os elementos sígnicos do filme de forma a ajudar a contar a história, o detetive Mills, que é interpretado por Brad Pitt, é notadamente passional. Irritadiço, impaciente e impulsivo, seu senso de justiça tem base na ação, no imediatismo, e isso é mostrado em todo o filme. Sua ânsia em prender o assassino John Doe, interpretado por Kevin Spacey, se traduz na forma radical com que toma algumas providências. Ele chega a esquecer um pouco a própria vida. Se voluntaria pra pegar o criminoso quando o principal protagonista da obra se recusa. Essa construção ajuda a realizar os estudos de personagens propostos pelo filme.
Ao fim do filme, quando John Doe se rende, toda a conclusão moral da história se dá na cena em que ocorrem os diálogos dentro do carro, enquanto os três personagens principais vão até o local em que o assassino aponta haver mais dois corpos.
Parece uma cena simples, na qual a maioria dos telespectadores sequer presta atenção, mas ali se desenvolve o principal embate do filme, antes da incrível conclusão.
Ali, entendemos um pouco da mente do assassino. Percebemos, por exemplo, que o pecador, para John Doe, é alguém a ser liberto, e a morte é essa libertação, e não só isso, que aqueles que mereceram morrer deveriam passar por uma espécie de purgatório na Terra, deveriam sofrer antes de morrer. No entanto, a relação que o bandido desenvolve com o detetive Mills se torna algo bem mais profundo do que possamos entender de imediato, por isso, Fincher constrói a citada cena do carro de forma a mostrar aonde cada um dos personagens irá se encontrar e de onde eles saíram dentro da história, pois ali está todo o macrocosmo do filme: um carro, que é um ambiente fechado, e os três personagens principais da obra. Dentro do carro, existe um elemento cênico muito importante para o entendimento da dinâmica entre os três personagens, que é a cela que separa o prisioneiro, no banco de trás, e os dois policiais nos bancos da frente.
De início, vemos o assassino pelo ponto de vista do público, um sujeito aparentemente ameaçador, que reserva alguma surpresa. John Doe está atrás da grade que separa o bandido dos policiais, porém, no primeiro momento, a grade não aparece. Ele olha para o detetive Mills de forma enigmática. 



Para Somerset, interpretado por Morgan Freeman, que aparece em cena logo a seguir, John Doe é apenas aquele preso que não parece oferecer mais qualquer risco a ele. Do seu ponto de vista, Doe é mostrado atrás da grade do carro. 


 
O detetive Mills começa a tentar provocar o bandido. Nesse momento, enxergamos o detetive Mills sem a grade. É aí que começa o embate. Como o Detetive Mills é mostrado sem a grade, pode-se dizer que nesse momento ele se sente livre por estar se sobrepujando ao assassino.




Ao mostrar o olhar de John Doe para o detetive Mills, ele aparece sem a grade. 





Ou seja, na verdade, quem se sente livre para sobrepujar o oponente é John Doe, e o filme revela esse aspecto apenas com esses movimentos de câmera. Pois, logo em seguida é Mills quem aparece em cena atrás da grade, pois, para John Doe, Mills é apenas um falastrão que não oferece risco nenhum a ele.




De forma muito sutil, utilizando os meios mais prosaicos juntamente com os elementos de cena, Fincher diz que, na verdade, o detetive Mills é a chave para a libertação de John Doe, ao mesmo tempo em que ele está preso em sua própria prisão: seu temperamento explosivo e sua forma de querer resolver qualquer situação, e essa prisão pode ser culpa dele mesmo, mas será agravada (ou mostrada) pelo assassino.
Em tempo, o detetive Somerset é mostrado sempre em close, mas nunca atrás da grade, o que demonstra que é ele quem influencia suas próprias atitudes de forma racional, sem estar preso às suas emoções, ao contrário do colega, e isso também é mostrado ao longo da obra, e é imprescindível para a conclusão do filme. 
O diretor talvez queira passar a mensagem de que existe uma função libertadora no controle das emoções, e não o senso de justiça a qualquer preço e de forma passional. Mas o certo é que ele usa a grade como um signo para representar a prisão, e o faz mostrando quem realmente está preso.
O detetive Mills e John Doe estão presos pelos seus sentimentos, pelo seu senso urgente de justiça, cada um a seu modo, mas John quer a libertação, o livramento, bem como o expurgo de seus próprios pecados, e para isso ele será o responsável pela prisão do detetive Mills, que ficará vivo pagando pelos seus pecados, sendo que a prisão do Detetive Mills não é uma prisão concreta, mas uma prisão metafórica, porém tão cruel quanto.
David Fincher sabe como utilizar a imagem para contar aspectos da trama sem precisar explicar ao espectador o que está acontecendo, e isso enriquece a experiência da leitura dos signos visuais nos filmes dele. E é essa a maior importância de analisar a semiótica em um filme: enriquecer a experiência, percebendo com mais facilidade detalhes da trama que geralmente passam despercebidos, além de auxiliar na leitura de discursos variados dentro e fora da grande tela. Para isso, é necessário identificar quais objetos cênicos, ou qualquer outro aspecto da narrativa, vão servir de signos ou de outros itens semióticos para se fazer corretamente a leitura.

Essa é a minha postagem de hoje, pessoas, muito obrigado por lerem!

Um abraço e até a próxima.

Bob Dias


 


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