Game of Thrones - O que houve?
A série Game of Thrones, baseada no livro "As Crônicas de Gelo e Fogo", do escritor George R. R. Martin, abalou definitivamente as bases televisivas.
Nas temporadas iniciais, vimos se desenvolver nas telas uma trama palaciana de intrigas, envolvimentos sexuais transgressores, guerras, aparecimento de criaturas que despertavam os mortos e o renascimento de dragões. Uma mistura inusitada. Tudo muito bem desenvolvido através de uma narrativa que, apesar de lenta, era bem concatenada, equilibrada.
As primeiras três temporadas se baseavam quase que completamente na trama dos livros, mas à medida que os episódios avançavam, essa ligação se tornava cada vez mais tênue, até desaparecer completamente, até porque o escritor ainda não finalizou a saga da grande noite.
Certamente, George R. R. Martin se foca na parte mais mística da história, por isso o título se diferencia da série televisiva. Nesta, o foco principal, como nos foi mostrado nos últimos episódios, é realmente a guerra pelo trono.
Temos uma primeira temporada com reviravoltas de fazer o fã chorar de agonia, como a captura e morte de seu protagonista, Ned Stark, e o nascimento dos dragões de Daenerys Targaryen. Mas tudo feito de forma mais simples, com efeitos especiais menos grandiosos, até pelo orçamento destinado à série.
A segunda temporada nos brinda com um final grandioso, com batalhas navais e explosões que não faziam feio frente a grandes produções cinematográficas.
A terceira temporada, que nos enchia de esperança no começo quanto a jornada de seus personagens, nos deixava simplesmente arrasados, principalmente com o desfecho do nono episódio, o mais perturbador episódio da série.
Após os acontecimentos do final da terceira temporada, ficamos sem saber que rumo as coisas iriam tomar nessa guerra pelo trono, e logo no início da quarta temporada, uma grande surpresa: o ciclo do até então grande vilão da série se encerrava. Essa virada fez com que acontecimentos espetaculares se desenrolassem, como a fantástica cena do julgamento de Tyrion e a cena de luta entre o Príncipe de Dorne e o Montanha.
A partir da quinta temporada, os desdobramentos que ocorrem em Winterfell e nas terras além da Muralha fazem nosso foco se virar para o outro contexto da história. Depois vemos as vitórias alcançadas por Daenerys em sua busca pelo trono e sua sede de justiça. Tudo se desenvolvendo, algumas vezes de forma apressada, principalmente a partir da sexta temporada, na qual tivemos a melhor cena de batalha de todos os tempos em uma série televisiva.
Todos esse acontecimentos geraram para a série fãs que exigiam uma história cada vez mais perfeita em termos de narrativa. Porém, nem tudo são flores.
A série, possivelmente a mais grandiosa já produzida, era tão instigante em suas reviravoltas, que os fãs se dividiam praticamente em times que torciam para personagem A ou B, mediante o grande número de possibilidades abertas para o desfecho. Ou você conhece outra série que fez as pessoas irem a bares torcer pelo destino de seus personagens como se fosse um jogo de futebol? Eu não lembro de nenhuma.
Mas então, o que houve? Por que o final desagradou a tantas pessoas? Aqui, vou tentar passar o meu ponto de vista.
O final não foi ruim, mas foi decepcionante.
O quê? Como assim? Explico.
O destino de personagens como Daenerys, Jon, Cersei, Jamie Lannister, Sansa ou Arya foram sendo estabelecidos a algumas temporadas atrás. No entanto, na sétima e oitava (e última) temporadas, as coisas pareciam se apressar. Algo que não combinava muito com a série. Se antes, ficávamos agoniados por coisas que aconteciam muito devagar, agora víamos tudo se encaminhar de forma rápida e atropelada. Personagens iam de um ponto distante a outro como se pegassem um avião. Tudo foi se construindo de maneira desconexa. Regras estabelecidas no universo da série foram sendo quebradas, e isso é o estopim para nos tirar da nossa suspensão da descrença, algo imprescindível para nos conectar a uma história. Afinal, se um dragão selvagem pode queimar qualquer um que não seja do bom grado dele, e ele age basicamente por instinto, por que diabos não queimar aquele que matou a mãe dele? Sim, existe a já famosa história do dragão ter percebido que o trono foi o culpado pela ruína de sua mãe. Seria uma ótima história se esse tipo de percepção por parte do dragão tivesse sido estabelecido antes dentro daquele universo. Ou seja, algo que é bom, mas decepciona por ser incoerente.
Todos nós, fãs da série, teríamos um final perfeito pra ela, que agradaria alguns e a outros não. Mas tenho certeza que todos os finais seriam melhores que este que nos foi apresentado. Aliás, até esse final seria melhor se fosse narrado de forma coerente com as regras desse universo. Os Dothrakis e Imaculados simplesmente deixaram os assassinos e traidores da sua rainha e libertadora se livrarem assim, sem mais nem menos? Eu, particularmente, torcia pelo Jon e por um final digno do personagem. E gostaria de ver a Daenerys ter um destino trágico, pois imaginava que seria assim. A heroína que morre para libertar e dar justiça ao povo. Bonito, mas não feliz. Mas o que tivemos foram cenas sem ritmo e sem emoção. Não seria um final ruim, se não fosse uma total quebra de ritmo na história. Após isso, uma elipse, e temos Tyrion sendo julgado novamente, mas nem sinal daquela força narrativa que vimos na quarta temporada, e sim um diálogo expositivo, que mais explicava o pensamento dos produtores em relação ao que veríamos no resto do episódio do que os encaminhamentos narrativos da série. Perturbadoramente decepcionante.
É difícil imaginar que algo tão grandioso e maravilhoso foi rechaçado por um final tão pouco imaginativo. Foi perceptível o cansaço dos produtores, bem como também o foi a falta de imaginação dos roteiros. Mas, a meu ver, a série foi sim, uma grande série. Ela nos emocionou, nos deixou tensos, nos agoniou, nos deixou enojados... e nos decepcionou. Fez seu papel na cultura pop e carimbou sua significância. Agora, nos resta esperar pelo final imaginado por seu criador original e torcer para que, em pelo menos neste, sejamos transportados novamente para um mundo do qual saímos com um gosto ruim.
Um abraço e até a próxima!
Roberto Dias
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