Dica de filmes: romances

Existem filmes que são muito bons e que não foram devidamente apresentados ao público, seja por sua origem de baixo orçamento, seja por motivos que somente os grandes estúdios e grandes distribuidoras conseguem explicar. Mas é certo que alguns merecem mesmo a nossa consideração. São filmes desconhecidos das grandes massas e que eu devo fazer o reconhecimento aqui para meus leitores. Nesse sentido vou procurar dar sempre dicas de filmes que não são reconhecidos pelas grandes plateias mas que, ao meu ver, são notórios por apresentarem uma história realmente apaixonante ou por, de alguma forma, subverterem o modo de se contar histórias.
Vou começar com o gênero romance, o qual, devo admitir, não sou muito fã, exatamente por causa da escassez de histórias realmente originais e por causa das grandes bobagens infantilizadas que eu vejo por aí.

Brilho eterno de uma mente sem lembranças: Este filme foi roteirizado por Charlie Kaufman, roteirista de outras obras-primas como Adaptação e Quero ser John Malcovich. Aqui, conhecemos a história de amor de Joel, interpretado com sensibilidade por Jim Carrey, e Clementine, papel de Kate Winslet. A novidade fica por conta do roteiro absurdamente original. Clementine, ao terminar seu namoro com Joel, resolve remover de sua memória tudo o que houve entre o casal. Magoado, Joel decide fazer o mesmo processo. Ao procurar um louco cientista que inventou esse método, ele é advertido de que não há mais volta. Daí acompanhamos inquietos o que aconteceu do momento de ruptura do relacionamento até os dias mais felizes do casal. Joel percebe que esses momentos deveriam permanecer em sua memória e, querendo desistir do processo de esquecimento, luta contra sua própria mente pra manter aquilo que acendeu o amor dos dois. É como se ele recomeçasse sabendo de todos os defeitos de Clementine, e aceitando-os de coração. A mensagem que fica é que tudo é feito de altos e baixos. O coração é que tem que aprender a conviver com isso. Um belo filme, mas é por vezes estranho e de difícil aceitação, foi dirigido pelo cineasta francês Michel Gondry e que ainda conta com as presenças do ator Elijah Wood, o eterno Frodo da Saga O Senhor dos anéis e da atriz Kirsten Dunst, de Homem Aranha e Entrevista com um vampiro.

Antes do amanhecer: Sabe quando você se senta ao lado de alguém de quem gosta muito e começa a bater aquele papo tão legal, tão aconchegante, que você nem tem mais vontade de ir embora. É exatamente esse sentimento que esse filme desperta. Um jovem americano e uma francesa se conhecem num trem em Viena e começam a conversar sobre tudo, criam laços um com o outro, compartilham de um espírito galhofeiro e aventureiro. Filosofam, cantam, brincam. Tudo em apenas uma noite, pois ao amanhecer, o americano tem que pegar o trem para o aeroporto e voltar para o seu país. Nessa obra-prima dirigida por Richard Linklater, ele se desnuda de virtuosismos e entrega um filme apaixonado e apaixonante, sem se desviar da realidade de um amor efêmero. Existe uma continuação em que os atores já estão bem mais velhos e resolvidos, que é tão bom quanto o primeiro, chamado Antes do pôr do Sol.

Procura-se Amy: Depois de reinventar o cinema adolescente com O Balconista, e de bagunçar com um shopping center em Barrados no shopping, Kevin Smith volta a dirigir, e dessa vez trazendo uma sensibilidade fora do comum, mesmo em meio aos diálogos cheios de palavrões e histórias de bizarrices sexuais. Aqui, Ben Afleck, até hoje sendo esse seu melhor papel em minha opinião, interpreta Holden McNeil que, junto de seu melhor amigo, Banky Edwards, interpretado pelo ótimo Jason Lee, são, respectivamente, desenhista e arte-finalista de uma série em quadrinhos cultuada pelos jovens americanos. Numa convenção de quadrinhos eles conhecem a descolada e linda Alyssa Jones, que também é desenhista e dá uma de cantora nas horas vagas. Holden se apaixona por Alyssa sem saber que, na verdade, ela é gay. No entanto o filme toma um tom mais dramático e se desfaz em reviravoltas incomuns numa comédia romântica. Cheio de referências pop, desvendando um mundo homossexual ainda desconhecido pra época sem julgar os personagens e fazendo as melhores sequências de diálogos românticos já vistas, esse sensacional filme merece ser visto e revisto, seja pela simplicidade, seja por não ofender a inteligência do espectador. Smith nos entrega uma obra calcada em sentimentos variados, como ciúmes, medo da perda, preconceitos, tudo isso sem procurar soluções agradáveis, que não existem quando se leva em conta um relacionamento entre pessoas tão distintas. É a construção e a desconstrução do verdadeiro amor.

Até a próxima

Roberto Dias

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