Andor - a maravilhosa série com selo Star Wars que mostra o início da coalizão rebelde contra o fasc... o império.

 Confesso que ultimamente eu andava meio cansado das produções com selo Star Wars. Gostei de "The Mandalorian", mas não via nela uma série profunda. Era só uma série bem gostosa de assistir e que se apoiava na muleta da nostalgia, e esse cansaço se deu principalmente em 2019, quando vi ao último filme da última trilogia da franquia, e sobre o qual eu fiz um pequeno texto aqui


 

Ao ser anunciado o trailer de "Andor", não tive muita empolgação, e por isso nem tive vontade de ver o tal trailer. Depois de "Kenobi", seria só mais uma série cheia de conveniências de roteiro e de efeitos bonitos. Os episódios foram saindo e eu fui deixando de lado, até que um dia, quando não tinha nada pra ver ou fazer, resolvi dar uma chance. E como é bom estar enganado. Talvez "Andor" não seja só a melhor série de "Star Wars" já feita. Talvez ela seja a melhor série do ano. Duvida? Então eu te dou algumas razões pra isso.

Sabe quando você assiste a algo e sabe como vai ser o final? Pois é. Tendo em vista que "Andor" se passa antes dos eventos mostrados no ótimo filme "Rogue One", e lá você sabe qual o destino do personagem principal, interpretado por Diego Luna, que cada vez mais demonstra ser um ator de peso (Assista a "Narcos - México"), você não se empolgaria em ver a série, sabendo que o personagem só vai cumprir de fato o que pretende lá no filme. Ok. Mas não se engane. "Andor" é sobre o personagem Cassian Andor, mas, ao mesmo tempo, não é exatamente sobre ele. Mais do que isso, é uma série política, tal como as raízes de Star Wars. Em "Andor" somos apresentados a um núcleo de personagens diversos, alguns obscuros, outros conhecidos da primeira trilogia, como uma das líderes da Aliança Rebelde, Mon Mothma, que aparece em "Rogue One" e na primeira trilogia de "Star Wars". Mais do que personagens, somos apresentados a todos os meandros políticos. A escalada do tom fascista do Império, que tenta gerar obediência através do medo, porém, sem tentar oprimir descaradamente, a fim de não acender as faíscas rebeldes que estão crescendo desde o fim das guerras clônicas. No entanto, a natureza opressora do regime não se esconde por muito tempo, culminando num episódio final de levar às lágrimas do tanto que é tenso e vibrante. Mas antes desse episódio, temos uma série que disseca sobre o ideal fascista, apresentando personagens maravilhosamente detestáveis e com muitas camadas, tudo isso num roteiro coeso. Esse roteiro foi escrito por, dentre outros, Tony Gilroy, que é criador da série. É dele o ótimo filme político "Conduta de Risco", e são dele outros ótimos roteiros. O cara colaborou com "House of cards", e aqui ele não deixa uma ponta solta sequer.

Imagina só - e aqui eu vou soltar um pequeno, mas poderoso, spoiler - que você seja colaborador na construção da arma que um dia vai te matar? Em "Andor" temos isso (assista até o último segundo dos créditos do último episódio e você saberá do que falo). Temos histórias de fuga de prisão. Temos histórias de assalto. Temos a história de como a cultura de um povo simples pode fazer com que as pessoas desse povo se unam com o objetivo de inflamar o fogo contra aquilo que o oprime, nascendo ali a força que irá inspirar outros guerreiros. E tudo é tão bem feito, desde a bandinha daquele povo, tocando uma música fúnebre com seus instrumentos meio desafinados, até uma das chefes do Império, sentindo o medo que a união daquele povo imprimiu a ela de forma violenta quando ela se viu no meio da multidão.

Sério, gente. Que série maravilhosa. Não se apoia na nostalgia. Não temos Jedi com suas espadas de luz. Não temos Skywalkers, Darths, Siths. Nada disso. Só a história de um nome que preferia ignorar aquilo que estava acontecendo, até que aquilo o atingisse. Como eu disse antes, "Andor" não é sobre o personagem Cassian Andor, mas sobre seu nome, sobre sua mãe, a inspiradora e sofrida Maarva Andor (Fiona Shaw, perfeita demais), sobre como a tirania vai tirando o melhor do povo, tudo embalado na veia política, em como retirar dinheiro pra financiar a revolução, em como as células fascistas vão se ativando e ganhando parte de uma população que se impressiona com um discurso de ódio. "Andor" é uma série que ninguém pediu, mas que todo mundo deveria ver.

Um abraço e até a próxima.

Beto Dias.

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