Dez filmes ótimos fora do eixo E.U.A./Inglaterra

Óia eu aqui de novo!!!

Bem, minhas gentes, hoje eu vou sugerir algumas dicas pra você que tá cansado de filmes formulaicos americanos (nem todos são, mas vocês sabem, né?!).

Eu sei que o cinemão americano é que leva a galera pros cinemas, que eles têm um poder cultural imenso, que desenvolveram um status dentro da cultura pop que dificilmente vai ser quebrado, com suas gigantescas explosões, seus dramas épicos e suas frases de efeito, mas outros países também têm adquirido um potencial de levar as massas aos cinemas, mesmo com filmes um pouco menos comerciais. Com diretores e roteiristas antenados com as linguagens cinematográficas, e profissionais que fazem o melhor dentro dos aspectos técnicos, mesmo com uma grana mais curta se comparado ao poder industrial norte-americano, o cinema fora desse eixo está se abrangendo, trazendo ao público novas formas de ver o mundo, e isso é sempre interessante.

Aqui vão dicas de dez filmes de fora do eixo Estados Unidos e Inglaterra que vocês podem dar uma conferida, de acordo com o gosto pessoal de cada um, claro. Os filmes brasileiros também estarão de fora da lista, pois pretendo fazer uma relação apenas com os melhores filmes de nosso país, segundo este que vos escreve.

Obs.: apesar de indicar filmes que não tiveram a produção sendo realizada pelos Estados Unidos ou Inglaterra, alguns terão empresas desses países envolvidas na distribuição dos filmes. 

A Vida é bela (La vita è bella) - Roberto Benigni. Itália. 1997.

 


 

Vou começar com esse filmaço do final dos anos 90. Eu sei que ele é bem conhecido, mas acredite, tem gente que ainda não conferiu essa obra tocante do diretor Roberto Benigni.

Benigni é a estrela dessa obra, ganhadora de vários prêmios, inclusive o Oscar de filme estrangeiro, como o fanfarrão judeu Guido. A primeira parte do filme nos remete às antigas comédias italianas, cheias de piadas quase infantis, o filme mostra Guido tentando conquistar uma paixão, a bela Dora (Nicoletta Braschi), que ele conhece por acaso. Durante o primeiro ato, o filme vai mostrando aos poucos a ascensão do fascismo na Itália e como Guido, que parecia alheio aos perigos, é mostrado como um homem de bom humor e cheio de pequenas malandragens. No segundo e no terceiro atos, temos a imposição do regime fascista e a captura dos judeus, entre eles o protagonista, já casado e com um filho de nove anos, o pequeno Giosué (Giorgio Cantarini). Guido tenta esconder do menino a todo custo os traumas da guerra e do fascismo, criando novas e mirabolantes histórias pra que o pequeno tenha a impressão de que aquilo tudo não passa de um inocente jogo.

Esse filme ganha o espectador por ser sensível, apesar do tema. Mostra uma diferente relação entre pai e filho, durante um dos momentos mais conturbados da história moderna.

O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno) - Guillermo Del Toro. Espanha/México. 2006.


 

O cineasta mexicano Guillermo Del Toro conseguiu fama após o terror "A espinha do diabo", um conto macabro de fantasmas que se passa num orfanato espanhol durante a ditadura de Francisco Franco. Este "O Labirinto do Fauno" é uma fantasia melancólica sobre a visão de uma criança no meio da ditadura de Franco. É também um conto de fadas sangrento e perturbador, do qual é quase impossível sair incólume. 

O filme conta a história de Ofélia (Ivana Baquero), de 11 anos, cuja mãe, Cármen (Ariadna Gil), passa por uma gravidez de risco, sendo que a criança em seu ventre é filha do Capitão Vidal (Sergi López). Juntas, mãe grávida e filha se mudam para o posto do exército desse capitão. Sádico e obsessivo, o Capitão Vidal preza pela saúde de seu futuro filho, ao mesmo tempo em que tenta impedir as investidas de um pequeno grupo de guerrilheiros que assola os arredores. Ofélia, ao passear no local, descobre um labirinto secreto onde vive um Fauno (Doug Jones). A criatura diz a Ofélia que ela não pertence ao mundo normal, sendo ela uma princesa de um mundo antigo, mas que, pra voltar ao seu mundo, ela terá de cumprir três tarefas de perigos mortais. A direção de Del Toro neste filme é singela, se apoiando na força das atuações e nos bons efeitos especiais e de maquiagem, algo em que ele é especialista.

O filme ganha o espectador por mexer nas nossas sensações, nos causando uma tristeza dúbia, tal como o seu final.

Distrito 9 (District 9). Neill Blomkamp. África do Sul. 2009.

 


 

Neill Blomkamp foi apadrinhado neste projeto por Peter Jackson, o homem por trás de "O Senhor dos Anéis". Com isso, ele ganhou uma produção extremamente caprichada que foi inclusive indicada ao Oscar de Melhor Filme.

Distrito 9 faz um paralelo interessante com o apartheid, contando a história de uma "invasão alienígena" bem diferente do que estamos acostumados. O que temos aqui é uma nave gigantesca que fica pairando sobre a cidade de Johannesburgo, na África do Sul, desde 1982. Os alienígenas ocupantes dessa nave, fracos e adoecidos, são confinados em uma espécie de favela na cidade sulafricana, local que foi chamado pelo governo de Distrito 9. Lá, eles sofrem todo tipo de abuso, discriminação e violência, vindo de dentro e de fora da favela. Depois de vários anos, o governo decide realocar a população alienígena devido ao alto crescimento demográfico, e um burocrata de uma empresa de atividades militares contratada pelo governo daquele país, Wikus Van der Mewe (Sharlto Copley), junto de sua equipe, é responsável por fazer essa realocação. Quando um dos alienígenas se recusa a sair do local, Wikus descobre que ele estava destilando um líquido misterioso. Ao sofrer um acidente envolvendo esse líquido, Wikus vai, aos poucos, sofrendo uma incrível mutação, o que vai afetar drasticamente a vida dele diante de todos que o conhecem.

O filme tem uma pegada parecida com o oitentista "A Mosca", principalmente nas incômodas cenas da mutação. Porém, aqui vemos o termo "empatia" sendo praticado da melhor forma possível, colocando realmente alguém na pele daqueles que este alguém criticava.

O filme ganha o espectador pelas impressionantes cenas de ação, dirigidas com efeitos especiais muito convincentes. E a ação é de tirar o fôlego.

Depois de Lúcia (Después de Lucía) Michel Franco. México. 2012.

 


 

 "Depois de Lúcia" é uma daquelas obras cinematográficas desconhecidas mas que merecem um melhor reconhecimento por parte do grande público. Não é um filme agradável de ver, mas é extremamente relevante.

É a história da adolescente Alejandra (Tessa Ia), que junto de seu pai, Roberto (Gonçalo Vega Jr.), se muda de uma pequena cidade mexicana para a grande Cidade do México após a morte da matriarca da família. Os dois passam por redescobrir um pouco mais de si mesmos, porém, na nova cidade, Alejandra enfrenta sérias dificuldades de se entrosar. Seu novo grupo de conhecidos a fazem passar por graves violências físicas e psicológicas, o que vai causando uma ruptura crescente na relação entre pai e filha. 

O filme vai mostrando e desenvolvendo seus personagens a fim de conceber uma relação de causa e consequência entre os relacionamentos, tanto no quesito relacionamentos amorosos, quanto no de amizades e de família.

O filme ganha o espectador por conta do caráter universal das situações vividas por seus personagens e da crescente tensão da história.  

Um conto chinês (Un cuento chino) Sebastián Borensztein. Argentina.  2011.




Este é um daqueles pequenos filmes que são tão gostosos de se assistir que você se pergunta o porquê de não o ter visto antes.

Roberto (Ricardo Darín) é um comerciante extremamente metódico. Vive sozinho em sua casa não porque seja um homem angustiado, mas porque gosta da sua solidão. Ele afasta todos com seu jeitão ranzinza e pouco afeito a interações sociais. Certo dia ele encontra um homem chinês (Ignacio Huang) perdido nas ruas de Buenos Aires. O tal homem não fala uma palavra de espanhol, mas está à procura do único parente vivo, que mora na Argentina. Roberto, num impulso de humanidade, decide ajudar o chinês, no entanto, essa ajuda fará com que ele mude completamente sua rotina.

O cinema argentino é cheio de pequenas pérolas da sétima arte, e este filme é um exemplo disso (do outro exemplo falarei mais adiante). O filme transita entre um drama intimista e até existencial e com uma boa dose de comédia, é um dos filmes mais leves dessa lista.

O filme ganha o espectador pelo magnetismo de seus personagens (é impossível não gostar do chinês) e pela sensação de bons sentimentos que causa.

Black (Idem) Sanjay Leela Bhansali. Índia. 2005.

 



 

Na Índia existe uma indústria cinematográfica que vai do interessante ao completamente estúpido, mas alguns filmes conseguem transpassar o comum, se tornando filmes de força extrema. Black é um desses filmes.

Ele conta a história de Michelle McNally (Rani Mukerji em sua fase criança e Ayesha Kapur na fase adulta). Ela nasceu cega e surdo-muda, isso dificulta de forma extrema as interações da menina. Sua vida começa a mudar quando ela conhece o professor Debraj Sahai (Amitabh Bachchan). Excêntrico, ele faz a menina trilhar caminhos diferentes, enfrentando difíceis percalços, para ser alguém na vida.

A força dramática desse filme é tanta, que é quase impossível não terminar o filme derramando litros de lágrimas.

O filme ganha o espectador pela jornada heroica dos personagens, emoldurada num mundo que vai da escuridão à luz e vice-versa.

Relatos Selvagens (Ralatos Salvajes) Damián Szifron. Argentina. 2014.

 


 

Se existe um tipo de filme que causa um interesse absurdo, esse filme é o "filme de vingança". Nada é tão catártico quanto uma vingança bem dada (no caso, bem mostrada). E aqui, nesse outro exemplo do ótimo cinema argentino, temos seis histórias de vingança maravilhosas.

Como dito acima, o filme é uma daquelas obras divididas em episódios, com seis pequenos filmes cujo tema principal é o sentimento de vingança. Na primeira delas, que se passa em um avião, o filme começa como uma quase anedota, onde o termo "vingança" ganha ares extremamente destrutivos. Na segunda, mais intimista e com um tom mais de filme de terror, temos um homem arrogante que desperta a ira de uma cozinheira. O terceiro episódio conta a história de uma absurda disputa de trânsito que culmina no desfecho mais engraçado de todos, apesar do humor ser recheado de bizarrices. No quarto, temos um empregado de uma empreiteira, especialista em implosões, que, após estacionar em um local proibido, porém, não sinalizado, tenta, de todas as formas, vencer um burocrático sistema a fim de tentar cancelar a multa. Não conseguindo, o mesmo apela a uma atitude extrema. No quinto episódio, temos a história de um milionário, cujo filho atropela e mata uma pessoa. O tal milionário, então, resolve colocar a culpa em um de seus funcionários, o que leva a trágicos caminhos. Este é um dos mais dramáticos episódios. No último episódio, temos uma festa de casamento, na qual a noiva descobre a traição do noivo e começa a pôr em prática a mais louca festa de casamento jamais vista, tudo embalado em um ódio destruidor, não deixando pedra sobre pedra. Pra mim, o melhor dos episódios.

O filme ganha o espectador pelo cuidadoso olhar da psique humana e a linha tênue que temos entre sermos civilizados e sermos selvagens.

Kung Fusão (Kung-Fu Hustle) Stephen Chow. China. 2004.

 


 

A paródia é um gênero do tipo "ame ou odeie". Não tem meio termo. E esse gênero já colocou no cinema obras maravilhosas como "Corra que a polícia vem aí", de 1988, e outras um tanto quanto vergonhosas, como "Espartalhões". Um filme paródia pode tirar sarro de outros filmes, como "Top gang - ases muito loucos", que parodia o filme "Top Gun", ou de um gênero específico, como "Apertem os cintos, o piloto sumiu" que faz graça com os filmes-catástrofe, famosos nos anos 70.

Em "Kung fusão", temos o cinema chinês parodiando os filmes de artes marciais chineses. Stephen Chow - ou Chow Sing-Chi, em sua língua original - é um malandro que, junto de um amigo, tenta tirar proveito de um povo de um vilarejo pobre fingindo pertencer a uma famosa e perigosa gangue, porém, tudo dá errado, e os dois buscam uma saída, em um caminho de muitas surras e, quem sabe, da redenção.

O filme ganha o espectador pelas engraçadíssimas e exageradas atuações e pelo estilo nonsense e a estética tipo desenho animado antigo.

Mártires (Martyrs) Pascal Laugier. França. 2008.


 

"Mártires" é uma obra que exemplifica bem o termo "cinema extremo francês". É um filme que divide opiniões e isso é muito compreensível.

Lucie (Mylène Jampanoi) é encontrada toda ferida e traumatizada aos dez anos de idade. Anos depois, ela e a amiga Anna (Morjana Alaoui) vão até a casa de uma família. Lá, descobrimos que o plano de Lucie é uma vingança violenta. Porém, outros acontecimentos as levam a um caminho de tortura e loucura. Falar mais sobre a história é entregar alguns pontos que é mais interessante de se ver quando se assiste ao filme sem saber muito sobre.

Extremamente perturbador, o filme é carregado de violência, e acredite, não é um filme pras pessoas mais sensíveis. Fuja da versão americana de 2015.

O filme ganha o espectador pelos mistérios que vão sendo mantidos até o final, que mistura filosofia, sadismo e crueldade.

Oldboy (Idem). Park Chan-Wook. Coreia do Sul. 2003.


 

Aqui temos mais um filme de vingança, e dirigido pelo cara que cunhou um universo cinematográfico maravilhoso apenas em cima desse tema com seus filmes, como "Lady Vingança" e "Mr. Vingança". Este é baseado em um mangá japonês, e, apesar do tema ser bastante explorado, inclusive em outros filmes dessa lista, aqui temos uma das vinganças mais doentias e perturbadoras que você vai ver em um filme.

É a história de Oh Dae-Su (Choi Mi-Sik), que foi capturado e trancafiado em um pequeno quarto durante 15 anos, sem saber quem o prendeu ou por quê o fez. Passados esses quinze anos, Dae-Su é repentinamente libertado. A partir daí, ele passa seus dias procurando a pessoa que o prendeu a fim de se vingar, mas é aí que o caldo desanda, pois esse misterioso homem guarda outras cartas na manga que fará com que Dae-Su sofra pelo resto de sua vida, mesmo que ele tenha sua vingança.

Aqui não temos apenas uma história cruel e violenta, mas visual e psicologicamente perturbadora, tem um dos finais mais destruidores em um filme. E fujam da versão americana.

O filme ganha o espectador por carregar um grau máximo de drama e suspense, além de ter atuações brilhantes, embaladas por primorosas cenas de ação.

Tá aí. Muitos filmes ótimos pra você passar um tempo, analisar, aprender uma cultura diferente do "american way of life". Tem pra vários gostos. Se gostarem, deem um feedback que apronto mais uma lista dessa. 

Forte abraço e até a próxima.

Bob Dias

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