A Árvore da vida: um filme que mostra a natureza e o conflito interno do homem contra o inexplicável


Houve o princípio e, um dia, haverá um fim. E no meio de tudo, houve a vida.  A Árvore da vida, novo filme do diretor Terrence Malick, é uma obra calcada em sensações. Ele não busca exatamente um tipo de emoção, mas a sensibilidade, o questionamento em relação à vida. O diretor é um poeta da imagem, e usa, mais uma vez, esse artifício não para contar uma história, mas para definir sua visão do mundo. Quando eu digo “mais uma vez” é porque o diretor sempre faz seu filme tendo como base uma narrativa visual inconstante em termos cronológicos, como se fossem versos soltos de uma poesia. Um de seus filmes anteriores utilizou esse artifício extremamente bem: Além da linha vermelha. É um filme de guerra, mas que celebra a vida e tenta mostrar a beleza no meio de um conflito horrível. Esse filme se assemelha a A árvore da vida no quesito introspecção. Seus personagens estão sempre indagando, refletindo, sonhando. Quase nunca eles falam uns com os outros.
A Árvore da vida é lento, como todos os filmes de Malick. Ele é um diretor que corre contra a corrente das grandes superproduções. Ele deixa a câmera estática. Mantém um diálogo visual com a natureza. Ele contempla as pequenas coisas da vida, como uma criança que fica enfurecida e joga longe um brinquedo, ou dois irmãos que brincam de forma triste, separados pelo vidro da janela.
Se o filme tem uma trama, ela seria mais ou menos assim: O cotidiano de uma família do Sul dos Estados Unidos: os O’Brien. A mãe, vivida com doçura por Jéssica Chastain, é a emoção. O pai, interpretado por um contido Brad Pitt, é a razão.  No meio, os três filhos, Jack, o mais velho, R.L., o filho do meio, e Steve, o caçula, que sofrem com a rigidez do pai, mas tem na mãe a leveza do carinho e da liberdade. A história se inicia com a Sra. O’Brien recebendo a notícia da morte de Steve. Depois disso, as cenas se alternam sem uma ordem cronológica, nos mostrando Jack adulto, vivido pelo sempre ótimo Sean Penn, e a vida dos meninos com sua família em sua infância, em lembranças do Jack adulto. A morte de seu irmão o faz querer se reconciliar com seu pai, do qual guarda grande mágoa e aos poucos, vamos sabendo o porquê. Jack também busca se reconciliar com a própria natureza, como vemos quando ele olha a grande selva de pedra da cidade que cresce de forma opressora, mas não tanto quanto a própria natureza. Natureza essa que guarda dualidade com o seu pai, pela rigidez e pelas cobranças.
O filme, como foi dito antes, é contemplativo. Os personagens estão em busca de sensações interiores. Numa cena particularmente linda, o diretor, na voz da Sra. O’Brien, questiona para Deus: “O que somos nós para Você?”, e as imagens que se seguem são o que podemos definir como seria a própria resposta de Deus, ou da natureza. Nos é mostrado uma grande explosão cósmica, o início dos planetas e da vida na Terra, até a época dos dinossauros, tudo embalado pela ótima trilha de Alexandre Desplat. Ali, podemos perceber que o próprio diretor fala: “quem somos nós diante da natureza e de milhões de anos de evolução?” Somos seres pensantes, mas tão pequenos diante da própria criação.
A mãe cita no início do filme a diferença entre a busca pela graça e pela natureza. A graça é o amor, o poder Divino. A natureza é a rigidez, a sobrevivência. A primeira é representada pela mãe. A segunda, pelo pai.

Graça e Natureza. É tudo o que resume o grandioso filme de Terrence Malick.

Por

Roberto Dias

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