A obra intrigante de Darren Aronofsky
Darren Aronofsky foi chamado de tudo por críticos e detratores, desde um diretor vazio de ideias e cheio de pretensão até um charlatão reacionário. Bem, não posso criticar o homem, tendo em vista que não o conheço, mas posso falar de sua obra, a qual eu admiro imensamente.
Em seu primeiro filme, Pi (E.U.A., 1998), Aronofsky já demonstrava sua capacidade de intrigar o espectador com cenas fortes, sem concessões. Sua narrativa cheia de cortes rápidos, num filme em preto e branco e com fotografia extremamente granulada, é bem incômoda e muito interessante. E saber que ele completou o filme com a ajuda de amigos torna a experiência de assistir a ele mais forte ainda. A história de um matemático extremamente inteligente e perturbado que procura um padrão nos números do setor mais caótico do mundo capitalista, a bolsa de valores de Nova York, ganha contornos de filme noir com uma estética moderninha. Apesar de ser um drama pesado, o filme é dinâmico. A câmera na mão nos dá uma sensação angustiante, quase como um pesadelo. Não é um filme pra qualquer público.
Pi
Em seu segundo filme, Réquiem Para um Sonho (E.U.A., 2000), o diretor não poupa nem personagens nem espectador. Ele desnuda o mundo dos sonhos de seus personagens e destrói qualquer resquício de esperança em sequências espetaculares e totalmente destruidoras. Aqui ele conta a história de quatro personagens, Harry Goldfarb, que é vivido pelo ator e roqueiro Jared Leto (lider da banda Thirty Second to Mars), sua mãe, Sara Goldfarb, vivida com imensa paixão por Ellen Burstyn, que concorreu ao Oscar por seu papel, a namorada de Harry, Marion Silver, que é interpretada pela bela Jennifer Connelly, e seu melhor amigo, Tyrone, vivido por Marlon Wayans. Aronofsky fala de sonhos que poderiam ser realizados, mas levam os personagens a um caminho que sabemos que é desolador e que irá acabar com eles, que rumam como um trem bala sem controle rumo às suas pretensões e perdições. É estranho ver um ator que se destacou na comédia, como Marlon Wayans, que fez o maconheiro de Todo mundo em pânico, se saindo bem em um papel dramático, mas aqui isso acontece e depois de um tempo você nem lembra mais das caretas desse ator em obras de comédia. O filme foi muito elogiado e criticado à época de seu lançamento. Alguns detratores o acusaram de ser um filme reacionário, uma grande propaganda contra as drogas. Uma crítica injusta, pois o filme fala através de seus personagens, sem julgá-los, mas também sem abrir esperança. Sem o Deus ex machina comum em produções bancadas por grandes estúdios de Hollywood.
Réquiem para um sonho
Depois dessa obra maravilhoa, Aronofsky resolveu alçar maiores voos. Ele decidiu levar às telas sua visão lisérgica dos maiores questionamentos sobre a morte e a vida. No belíssimo A Fonte da Vida (E.U.A., 2006), o diretor criou um espetáculo cru e visceral contado em três linhas narrativas diferentes. Na primeira, ele mostra a busca de um navegador espanhol do século 16 pela árvore da vida citada na Bíblia. Nos tempos atuais, vemos a história de um brilhante médico que luta para encontrar a cura do câncer para ajudar sua esposa que sofre desse mal. A terceira conta a história de um viajante espacial que tenta encontrar as respostas da vida embarcado numa estranha nave espacial em busca de uma estrela que está morrendo. As três histórias se entrelaçam e por vezes se confundem. No papel dos três homens está Hugh Jackman, o Wolverine, e no de sua esposa, está a mulher do diretor, Rachel Weisz, de A Múmia. O diretor levou anos trabalhando no filme, que teria como ator principal Brad Pitt, e seu orçamento estava em cerca de 75 milhões de dólares. Brad Pitt pulou fora do barco alegando diferenças artísticas com o diretor e foi fazer Tróia, de Wolfgang Petersen. Por causa desse fato, o orçamento foi cortado pelo estúdio. Mas quem ainda não viu, não se engane. O diretor teve de usar muita criatividade, o que ajudou, pois o filme ficou muito mais humano da forma como foi concebido. Hugh Jackman está maravilhoso em todos os três papeis que faz.
A Fonte da Vida
Em seu quarto filme, Aronofsky nos emociona contando a tocante história de Randy Robinson, vivido com maestria por Mickey Rourke. Em O Lutador (E.U.A., 2009), o personagem de Rourke luta para manter viva na memória dos fãs a euforia de um tipo de esporte que não tem mais seus dias de glória: O wrestler, um tipo de luta livre misturada como encenações. Randy é um homem que sofreu muito em sua vida, e o rosto semi desfigurado de Rourke ajuda no papel. Randy é um homem que já teve seus dias de celebridade, mas que devido aos percalços da vida, perdeu quase tudo que tinha, incluindo aí o respeito de sua filha. Randy tem na luta livre sua válvula de escape e pela bela prostituta vivida por Marisa Tomei, em seu melhor papel em todos os tempos, ele nutre um sentimento que é o que chega mais perto de um amor verdadeiro. Um filme brilhante que mostra como Aronofsky sabe emocionar. Em tempo, Mickey Rourke também concorreu ao Oscar por esse filme, e que me perdoem os fãs de Sean Penn, que ganhou o prêmio por Milk, acho que dessa vez Mickey Rourke merecia mais. Porém, os membros da academia não concordaram com isso.
O Lutador
Em seu último filme, Cisne Negro, Aronofsky cria uma de suas melhores personagens, Nina Sayers, que é interpretada por Natalie Portman. Pra ver minhas considerações sobre esse filme, basta clicar aqui.
Darren Aronofsky prepara agora seu novo filme, Noah, que deve contar a história da Arca de Noé numa produção grandiosa. Com o sucesso comercial e artístico de Cisne Negro, os estúdios devem liberar uma grana maior pra esse diretor que não abre mão de sua visão, mesmo perdendo atores como Brad Pitt e Cate Blanchet. É como muita gente diz, ele pode ser pretensioso, mas todo bom cineasta é pretensioso, mas nem todo cineasta pretensioso é bom. Aronofsky está em um time de seletos diretores modernos que não fazem concessões a grandes estúdios. Nesse time, está um outro diretor, David Fincher, do qual eu falarei no futuro, comentando suas obras. Até a próxima.
Roberto Dias
Gostei do seu texto!! Você é um bom crítico de cinema!! Acho que vou contratá-lo, rsrsrs!!! beijos... Mary Paes
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