Todos inertes!!

O dia começa. Pego o meu carro e saio pelas ruas esburacadas de minha amada - por mim, não pelos meus representantes - cidade. Reclamo do ciclista que fica andando no meio da rua. Nem ele, nem eu temos culpa. Como dividir um espaço que não é feito pra ninguém? Na esquina, o sinal amarelo acende. Eu piso fundo no acelerador pra dar tempo de passar. Eu não quero ficar míseros segundos parado em um sinal esperando pedestres passarem lentamente. É muito tempo pra qualquer um.
Ao descer do carro, na calçada, um pedinte sentado no chão me estende a mão aberta. Eu olho pra ele com uma cara de nojo. Penso que ele poderia ir trabalhar. Qualquer emprego seria menos humilhante que isso.
Alguns minutos depois, estou dentro de um banco. Olho pessoas reclamando da fila, da lentidão dos atendentes, daqueles que se acham mais espertos e ficam furando a fila. Estresse. Gritos. Eles não sabem talvez que isso de nada vai adiantar. Um reclamão é apenas um reclamão e chato pra maioria das pessoas. E reclamar aos ventos não adianta, é como tentar curar um machucado no braço direito colocando pomada no braço esquerdo. O povo deveria aprender para quem reclamar e fazer pressão. Mas na verdade são uns ignorantes. E a ignorância é o motor dos opressores.
Quando chego no meu trabalho, resolvo que é o dia de pedir um aumento ao meu patrão. Afinal, trabalho com afinco a tantos anos. Acho que mereço isso. Decidi falar com meu chefe. Sua resposta foi não. E a sua resposta à minha inevitável réplica foi que se eu não gostar do meu salário eu posso pedir minhas contas e que existem milhares lá fora que desejam o meu emprego e trabalhariam por menos que eu. Eu saio chateado. Fico colocando a culpa nos desempregados que, indiretamente, colaboram com a minha estagnação financeira. Eu nunca vou poder receber melhor apenas porque tem muitos por aí que fariam o mesmo por menos. Isso deixa qualquer trabalhador triste.
Depois de um dia de trabalho, fiquei pensando na minha situação. Imagino e pronto. Fico nisso. Simplesmente não faço mais nada. Como qualquer brasileiro, fico sentado em frente à TV. Reclamando do quanto está caro viver aqui. Estamos indo a passos largos para um abismo de corrupção simplesmente porque eu não faço nada. Sou apenas um reclamão. Cadê meu amor à pátria.
Eu permaneço aqui, sentado, vendo televisão, vendo tudo que está acontecendo. Fingindo que não é comigo. Eu não quero ir pra luta. Não quero lutar e me arriscar a morrer. Ninguém merece isso por mim. Não quero ajudar o Brasil a melhorar. Eu penso nisso, mas aí vem outro jogo do Brasil. Eu torço, vibro, o Brasil vence e eu comemoro por ser brasileiro. Eu guardo a camisa. Escondo a bandeira e a vida continua. Eu fico aqui, inerte, reclamando do quanto é caro viver no Brasil.

Por

Roberto Dias

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