O Poço (El Hoyo) - O que você seria se chegasse ao fundo do poço?
Olha eu de voltaaaa!!!! Acho que tá na hora de tirar um pouco a poeira desse blog e tentar escrever algo em meio a essa crise que estamos vivendo. Pra isso, escolhi falar um pouco do novo filme da Netflix, O Poço (El Hoyo,2019), dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia.
O filme espanhol conta a história de Goreng. Um sujeito aparentemente comum que aceita, por vontade própria, participar de um tipo de experiência social. Certo dia, ele acorda em um lugar conhecido como "O Poço", uma espécie de prédio com um grande buraco no meio, por onde, todos os dias, uma plataforma desce com comida para os confinados. O problema é que a comida, que começa como um banquete nos primeiros níveis, vai acabando à medida em que desce aos níveis inferiores. A plataforma fica parada em cada nível por alguns minutos. Em cada nível, existem sempre duas pessoas, no entanto, tudo é válido para que essas pessoas se alimentem. E essas pessoas permanecem durante um mês em um nível aleatório, mudando pra outro nível depois desse mês. Logo conhecemos a dinâmica da história, que é uma espécie de terror e ficção científica que trata de como as diferenças sociais podem afetar o nosso comportamento. Mas não só isso. O filme leva a alegoria um pouco além.
Extremamente cru e visceral, o filme mostra como a nossa decadência social nos leva a uma decadência espiritual e moral. É tipo uma mistura de "mãe!" e "Mártires". Do primeiro, ele tem as alegorias religiosas. Do segundo, além das cenas de violência extrema e de nojeira explícita, ele busca a compreensão do ser através de uma perturbadora experiência.
Goreng, o protagonista da trama, pode representar diversas coisas dentro do espectro narrativo do filme. Pode representar um anjo caído tentando ajudar a humanidade, pode ser um homem se aprofundando em seu próprio inferno, e aqui o filme meio que deixa essa perspectiva à tona, tendo em vista que -- SPOILER -- são 333 níveis, onde estão 666 pessoas -- FIM DO SPOILER --.
Em certo momento da obra, Goreng, ao ouvir uma companheira de nível, percebe que para acontecer uma mudança, tem que haver algum sacrifício. No entanto, o filme nos leva a pensar, ao final, que o sacrifício está em fazer com que as pessoas dos níveis superiores jejuem para que as outras possam se alimentar, e assim que todas essas pessoas percebam que todos devem fazer o sacrifício até que o sistema mude, e aí temos uma alegoria política. Na verdade, não se trata só de uma alegoria, mas de uma referência explícita ao comunismo, quando alguém tenta, de alguma forma, mudar algo e é criticado por ser acusado de ser "comunista".
À medida que Goreng vai chegando ao fundo do poço, ele percebe que, no caminho, as pessoas vão se tornando apáticas, inseridas num sistema cruel e apenas seguindo o que acham que devem seguir, sem contestar, sem tentar mudar. Algumas se tornam praticamente monstros, mesmo que nem sempre agem de forma a querer prejudicar o outro por vontade própria.
Diante de tudo, de toda a violência e sujeira encontrada, de toda a desigualdade à medida que os níveis mais baixos vão chegando, encontrar a esperança nem sempre quer dizer que iremos sobreviver, mas que deixaremos uma mensagem de um futuro melhor. Quem seríamos nós no meio desse caos? Quem SOMOS nós no meio do caos? E quem seríamos se chegássemos ao fundo do poço? Os assassinos? Os apáticos e resignados? Ou poderíamos ir atrás de algo que nos desse esperança, não de sobreviver, mas de dar ao mundo algo melhor?
Valeu, meu povo. Um abraço e até a próxima!
Roberto Dias
Formado em Letras. Crítico de cinema de ocasião. Pai da Isabela e amante de música e da sétima arte.
Comentários
Postar um comentário
Sua colaboração é de infinita importância. Opine!