Rogue One - Uma História Star Wars
Quando eu falei sobre o filme "Planeta dos Macacos - O confronto", eu comecei dizendo que a ficção científica retrata a condição humana de forma mais contundente do que muitos dramas. E, aqui, reafirmo essa posição. "Rogue One" é praticamente um filme de guerra, apesar de todo o escopo fantástico, e é também um filme político sobre política. Aliás, essa é uma característica de toda a Saga Star Wars.
O filme é uma espécie de "Os doze condenados" ou "Bastardos inglórios", com a diferença de que se passa num mundo de fantasia espacial. Vemos aqui arcos interessantes, apoiados em personagens que, a bem da história, fazem uma perfeita ligação com o público, com exceção, talvez, da própria protagonista, Jyn Erso, vivida por Felicity Jones, de "A Teoria de Tudo".
Filha do cientista Galen Erso (Mads Mikkelsen, da série "Hannibal"), Jyn se vê numa situação de desconforto quando se junta a um grupo de renegados com a missão de roubar os planos da mais potente arma construída pelo tirano Império Galáctico: a Estrela da Morte.
De início, Jyn não se sente afetada pela guerra e até a ignora, por julgar que seu pai e todos ao seu redor a tenham abandonado por causa dela, e essa apatia está refletida no olhar meio perdido da atriz, o que tira a conexão dela com o público. E aqui é onde entramos na seara da construção dos paralelos da ficção com a realidade. Pessoas que ignoram acontecimentos políticos ao seu redor achando que isso não as afetará, deixando que outros tomem as rédeas da luta, acabando por se esconder numa neutralidade que afeta, sim, a elas e a outros.
A história do filme se passa um pouco antes da abertura do episódio IV da Saga, mas tenta quebrar seu elo com a história na qual se baseia, e por isso abre mão do letreiro-tapetão que escorre para o espaço nos créditos iniciais. No entanto, oferece ao espectador mais de Star Wars do que todos os filmes da segunda trilogia (episódios I a III) dirigida por George Lucas juntos. Aqui e ali são colocados vários easter eggs, para o delírio dos fãs, o que inclui cenas onde aparecem personagens clássicos, como o Grand Moff Tarkin, num efeito digital de reconstrução facial do ator Peter Cushing, e Dart Vader, em duas cenas, uma delas de tirar o fôlego.
A direção de Gareth Edwards (Godzilla) é firme e segura, mas nada fora do convencional em termos de narrativa cinematográfica. Agora, o que falar da fotografia? Simplesmente maravilhosa. Nos põe no meio da ação, e remete às grandes obras de guerra. Quanto ao 3D, é inútil. Não há aqui a preocupação com esse tipo de efeito, por isso, aconselho a ver em 2D mesmo. Não vai mudar em nada a experiência.
Quanto às críticas de que alguns personagens coadjuvantes são desprezíveis para a história, é claro que não. Todos têm uma função, e claro, se eles fossem alijados da história, o roteiro acharia uma forma coerente de seguir sem eles, mas a sensação não seria a mesma. Você se apega a eles, e torce para o seu sucesso, e é isso que faz do filme um bom filme de ação e de guerra. Personagens com os quais você se importa, e uma história tensa, mesmo você sabendo o final.
O filme é tão bom que melhora, inclusive, a experiência de rever o episódio IV, uma vez que você fica sabendo de todos os acontecimentos até aquele ponto da história. Você entende coisas como a frase proferida por C-3PO ao sair da Corvette Hammerhead da então Princesa Leia num casulo de fuga rumo a Tattooine em "Uma Nova Esperança": "daqui tudo parece tão calmo".
O serviço que este filme presta à saga é, definitivamente, bem superior a qualquer produto cinematográfico realizado desde o episódio V, "O Império Contra-ataca". Ele não tenta prender a atenção com personagens que já tem uma conexão com os fãs, já estabelecidos, mas com um grupo desconhecido, e consegue, e isso é muita coisa.
Abraços e até a próxima.
Roberto Dias
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