A Chegada ou quando humanas e exatas se abraçam.

Já estamos quase no fim do ano e finalmente temos algo mais que um filme de super-herói ou adaptação de spin-offs de famosos personagens literários.

"A Chegada" é baseado no conto de Ted Chiang "Story of your life", e é dirigido por Denis Villeneuve, responsável por obras como "Sicário" e o maravilhoso "Os Suspeitos", com Hugh Jackman. Ele também está no comando da sequência de "Blade Runner", e esse filme dá a ele certa segurança para a realização de seu iminente feito.
Aqui, temos a história da linguista e professora universitária Dra. Louise Banks, que, após a chegada de várias espaçonaves pelo mundo, é chamada pelo exército com a finalidade de tentar se comunicar com os extraterrestres. Nessa missão, também embarca o Dr. Ian Donnely, cientista matemático interpretado por Jeremy Renner. Apesar de simples, a história não tem nada de simplista. Começa pelos caminhos criados pelo roteirista Eric Heisserer (Quando as luzes se apagam). Fugindo do óbvio, percebemos que a Dra. Banks é considerada uma grande linguista, mas não é a única opção do exército. Outros foram chamados e, caso ela falhe, outros serão. Não apenas os americanos estão tentando fazer contato com os extraterrestres, mas outros países também dispensam esforços nesse sentido, e os americanos fazem parte de uma rede em que todos os países colaboram entre si. Aliás, a comunicação é um dos principais motes do filme. A comunicação entre humanos e seres de outro mundo, entre os vários países, entre pessoas distintas e entre nós e nosso interior, nossa perspectiva.
 A interação através da escrita, o conceito de tempo cíclico, a gravidade inversa e outros elementos fazem dessa uma obra que se fortalece nos pequenos detalhes. São esses detalhes que fazem de "A Chegada" um filme questionador. Ele é lento em sua execução. Nisso, ele lembra o excelente "Contato", filme dirigido por Robert Zemeckis em 1997. No aspecto científico e no quesito "drama pessoal", ele lembra bastante "Interestelar", de Christopher Nolan, mas sem os diálogos excessivamente expositivos que permeavam aquela obra de 2014. Aqui, Villeneuve e seu roteirista confiam na sagacidade de seu público, apesar de um desfecho prolongado com o intuito de dar um aspecto mais dramático ao arco de Louise Banks.
Amy Adams, inicialmente, parece apática, dando o tom da personagem após a sua introdução - alías, essa introdução se compara a de "Up - altas aventuras" em tom -, onde entendemos (ou assim a história quer que entendamos) o motivo de tal apatia. No entanto, percebemos a força de sua interpretação através de seu olhar e sua respiração em momentos-chave do filme. O mesmo podemos dizer de Jeremy Renner, que mostra o seu temor de entrar na nave extraterrestre sendo vencido pela empolgação com algo tão fascinante para um cientista que é entrar em contato com uma civilização de outro planeta. O elenco conta, também, com Forest Withaker como o Coronel Weber, o típico militar que segue ordens de seu governo e teme pela "segurança nacional". 
Os efeitos especiais são minimalistas e não chamam a atenção para si. As tomadas são belíssimas e gigantescas, cortesia do fotógrafo Bradford Young, e que dão um belo contraste com o teor intimista da história. Os efeitos sonoros praticamente dão a direção dramática do filme. Aliás, todo o design de som é criado de forma inventiva, desde os constantes sons de helicópteros, até mesmo quando não os vemos, que criam a sensação de urgência, até os momentos de extremo silêncio, quando o espectador é retirado do macro da história e inserido no micro.
"A Chegada" não é um filme de tão fácil compreensão. É pra ser degustado devagar, tal como a história se apresenta. Mas quando o espectador sai da sala de cinema, o filme vai com ele. Villeneuve se saiu muito bem na empreitada de oferecer ao espectador questionamentos como a busca não pela felicidade, mas por momentos que valham a pena viver, mesmo sabendo que outros serão bem difíceis e trágicos. É um filme marcado mais pelas perguntas do que pelas respostas, mas não é uma história aberta. Aliás, é o filme mais fechado e redondo de Villeneuve.

Um abraço e até a próxima.

Roberto Dias

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