Batman vs Superman - a origem da justiça



"Você é um 'reaça' que só quer agir com violência porque não sabe argumentar"
"Você é um comunistazinho de merda que só por que tem superpoderes acha que pode ser superior ao homem".
Parece até papo de comentário de internet em notícia da política brasileira (claro que, nesse caso, a coisa é bem menos polida), mas se trata dos desentendimentos entre o alienígena bonzinho que não quer matar ninguém (Henry Cavill), pois acha que todos tem a chance de se recuperar, e o justiceiro anti-herói (Ben Affleck) que, desiludido com a humanidade, apela para sua riqueza, seu conhecimento e inteligência para praticar vingança contra todos que saem da linha. Existe uma fala no filme que poderia resumir todo o embate: "tudo o que é feito nesse mundo é político".
O que me deixa triste, bem, triste não, só um pouquinho desapontado, é perceber que, apesar da capa política, tudo não passa do bom e velho plano do vilão para conseguir poder (ou conquistar o mundo, como queiram). Porém, outros podem ver as coisas diferentes do que eu vejo, o que é bom, já que o filme pelo menos abre essa discussão sobre o que parece certo ou errado para alguns, e vice-versa.
No filme, que na verdade deveria se chamar "um pequeno desentendimento entre Batman e Superman", a história se passa após os eventos destruidores mostrados em Homem de Aço. O herói de Gotham não só culpa o alienígena de Krypton pela destruição de Metrópolis, e consequentes mortes e tragédias decorrentes desse evento, como atribui a ele, não sem razão, um poder que pode selar o destino do planeta. Enquanto o repórter do Planeta Diário implica com a violência constante em Gotham e seu justiceiro mascarado. Está aí o cerne do filme.
Zack Snider é um cara preocupado com a forma, e não por acaso as tomadas são belíssimas, e estão lá todos os maneirismos do diretor de Watchmen, o que nem sempre é bom. Mas, dessa vez, ele parece um tantinho mais contido. Algumas opções do diretor são um tanto quanto confusas, como uma cena de sonho em que ele tenta manter o Superman fora de foco, criando um suspense na aparição do herói, sendo isso totalmente desnecessário. Aliás, as cenas de sonho são completamente desnecessárias, criando uma lógica narrativa preguiçosa e com o objetivo de inserir informações sobre o futuro da saga dos heróis ali retratados, o que estica consideravelmente o filme e nos tira do andamento da narrativa. Outras tomadas fazem uma metáfora óbvia, como na cena em que o Superman salva uma mulher em uma enchente.
Uma das melhores coisas do filme é a atuação correta de Ben Affleck. Seu Batman demonstra tudo o que esse herói sempre representou. As sombras, a dúvida entre o certo e o errado, o desapego com relação ao amor, o que, aliás, é martelado à exaustão por Alfred Pennyworth (Jeremy Irons). Em uma cena ele diz: "nós sempre fomos bandidos", o que representa o cinismo do herói, que é uma reflexão de sua visão de mundo. Seu uniforme lembra levemente o dos quadrinhos de O Cavaleiro das Trevas.
Outra coisa boa do filme é a Mulher Maravilha, não pelo roteiro, claro, pois este é apressado e a trata quase como um "deus ex machina", mas mais pela interpretação fortíssima de Gal Gadot. Em uma pequena tomada, após ser derrubada, ela dá um sorriso esperto e cheio de cinismo, como quem diz "eu gosto é assim". Até o tema musical da Mulher Maravilha denota a natureza guerreira da personagem. Espero mais dela.
A luta entre os dois heróis do título foi muito menor do que poderia ter sido, até mesmo seus embates verbais foram xoxos, parecendo implicância de adolescentes idealistas.
Jesse Eisenberg como lex luthor fica no meio termo entre a verborragia e a loucura. Cheio de tiques, ele se distancia de outros exemplares do vilão, mas torna o seu personagem um chato que não parece oferecer muito perigo, mas Lex pode ser melhor desenvolvido numa provável continuação.
No terceiro ato, o filme se apressa em mostrar outros heróis da DC em uma curta tomada, o que também é ruim, pois mostra que a DC, no cinema, quer se igualar à rival Marvel Comics, só que sem desenvolver os heróis a contento.
Algumas cenas poderiam ter sido retiradas na sala de edição, outras inseridas para melhor aproveitamento e rendimento de alguns personagens, mas no geral, o resultado é bem satisfatório, pois o que importa é que está dando público, e nossos super heróis podem vir a ter melhores produtos cinematográficos no futuro.

Roberto Dias

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