Invocação do Mal puxa seu pé e você gosta!

    Quando eu vou ao cinema, eu quero sentir algum tipo de emoção. Eu não ligo pra qual. Só quero sentir. Porém, me sinto ofendido (e essa é uma emoção não desejada) quando percebo que estou sendo enganado por algum cineasta manipulador sem inteligência. E existem muitos assim. Mas existem também cineastas que sabem manipular com inteligência. Hitchcock é um deles. Shyamalan poderia ter sido, mas se perdeu em asneiras pretensiosas.
    Dentro de um time neutro, James Wan apareceu com um filmezinho barato, cheio de violência e com poucos sustos e muitas surpresas, mas um bom filme, chamado Jogos Mortais (Jigsaw, 2004). Nesse filme, Wan mostrou uma boa história, tão manipuladora quanto seu personagem principal, o Jigsaw do título original. O filme era tenso na medida certa. Trazia uma história interessante, e com a mão pesada do diretor, o filme se tornou uma franquia dentro de um nicho dos filmes de terror conhecidos como Torture Porn, ou os Pornôs de Tortura, onde os personagens despedaçam-se uns aos outros da forma mais violenta possível, onde se enquadram obras como O Albergue e Turistas.
   Pois bem, esqueça o peso e a violência desse filme anterior (James Wan também dirigiu Sobrenatural, mas esse eu ainda não vi). Neste Invocação do Mal, o diretor aprendeu a cartilha William Friedkin de como fazer um filme de demônio (pra quem não sabe, Friedkin foi o visionário diretor de O Exorcista). E ainda nos brindou com ótimas homenagens a Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, e Poltergeist, de Tobe Hooper. E quem diria que o diretor de Jogos Mortais fez um filme que, apesar de pregar bons sustos, é cheio de sensibilidade.
    Vamos à história: a família Perron - Pai, mãe e cinco filhinhas - se muda para uma casa de campo no interior de Rodhe Island e lá começam a perceber uma série de acontecimentos estranhos. No início, os relógios param sempre no mesmo horário da madrugada, e o cachorro, que se recusou a entrar na casa, aparece morto sem motivo aparente no dia seguinte à mudança. Quando a coisa fica quase insuportável, eles recorrem a um casal que ganha a vida caçando fenômenos sobrenaturais. Existe aqui um detalhe que parece fazer toda a diferença: tudo isso é supostamente baseado em fatos verdadeiros.
    Verdade ou não, o certo é que, se no começo do filme, após a apresentação do tal casal caça-fantasmas, nós vemos uma leveza impressionante, nós não fazemos ideia do quanto assustadora a história vai ficar à medida que os eventos se desenrolam.
    O uso magistral dos efeitos especiais discretos nos lembra a mão de Spielberg sobre o filme Poltergeist, que se fosse depender do diretor, Tobe Hooper, seria algo mais trágico e sangrento, mas o que nos mantém na ponta da cadeira são os efeitos sonoros, que remontam diretamente ao citado O Exorcista. Cheio de suspiros e portas rangendo, estamos sempre à espera do próximo susto, como os bons filmes de casa mal assombrada de antigamente. 
  A fotografia faz jus ao clima. De dia, as coisas parecem tranquilas (com exceção de duas cenas que envolvem, respectivamente, um pássaro morto e uma pequena ventania), e temos uma fotografia clara, de paletas de cores fortes, com um céu muito azul e a grama bem verde. Mas à noite, a escuridão sufocante dos corredores daquela velha casa é realmente assustadora como nos bons filmes de terror.
    Mas, diante de todos esses clichês, o que faz a diferença entre esse filme e tantos outros? Simples: as atuações e os cortes precisos. Nada é gratuito. O casal caça-fantasmas, Ed Warren e Lorraine Warren, interpretados, respectivamente, por Patrick Wilson (O Coruja de Watchmen) e Vera Farmiga (Amor sem escalas) fazem o tipo carinhoso. Ela, carregando um mistério que é revelado sem grandes rodeios ao longo da trama, e ele querendo fazer sempre o papel de pai e marido responsável por tudo que acontece à sua família (responsabilidade essa que Lorraine puxa pra si quando se dá à sina de ajudar os Perron). A família Perron é a típica família de interior americana. Carolyn (Lili Taylor) é a mãe que fica em casa, e Roger (Ron Livingston) é o pai que sai para trabalhar. Ambos nutrem suas filhas de atenção e carinho. As meninas dão conta do recado, o que é uma grata surpresa, tendo em vista a quantidade de adolescentes insuportáveis que aparecem nesse tipo de filme.
    A trilha sonora (incidental ou não) é extraordinária como há muito não se vê no gênero. E o roteiro é eficiente, e ainda me dá a certeza de que nenhum produtor esperto, aproveitando os dólares arrecadados (e já são muitos milhões) vá fazer alguma continuação da história... Hmmm, pensando bem, quanto a esse último comentário, é melhor não apostar nisso. Executivos de Hollywood são capazes de tudo pra ganhar mais notinhas verdes com histórias que dão certo.

Até a próxima...

Roberto Dias.

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